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Compulsão alimentar: o que é e como identificar?

19 de fevereiro de 2020

Transtorno alimentar atinge 4,7% dos brasileiros e exige tratamento multidisciplinar

Exagerar na comida é uma experiência que todas pessoas já passaram. Às vezes acontece porque gostamos muito de um prato ou porque estamos nos sentindo tristes ou nervosos. Porém, quando esse exagero passa a ser algo normal, a pessoa pode estar enfrentando um quadro de compulsão alimentar – problema que atinge  4,7% dos brasileiros, segundo dados da OMS.

O comer compulsivo costuma acontecer quando algum fator faz com que a pessoa use a comida como ferramenta para atingir outros objetivos, como lidar com emoções como ansiedade ou tristeza. O prazer do ato é usado para compensar outra forma de sofrimento ultrapassando o ponto de saciedade de forma repetitiva. Isso é chamado de Transtorno da Compulsão Alimentar (TSA).

Segundo a nutricionista Aline Copstein, coordenadora do núcleo do Comportamento Alimentar no Instituto de Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais (InTCC), existe um perigo quando essa prática vira a primeira opção para lidar com sentimentos. “O indivíduo usa o comportamento compulsivo como principal meio de regulação emocional e chega a este ponto porque, apesar de reconhecer o fracasso desta estratégia, é o recurso que conhece. Assim, insiste em tentar, cada vez mais e mais intensamente, mesmo que haja prejuízos importantes e amplos”, ela explica.

Exagerar em uma refeição ou outra não caracteriza o comportamento ou o transtorno compulsivo. “No comportamento compulsivo, o prazer pode dar início a uma ingestão, mas depois segue mesmo com desconforto ou com alimentos de que não se gosta”, a nutricionista descreve.

As crises compulsivas estão relacionadas a conflitos permanentes não resolvidos. Lutos, fobia social, baixa autoestima, depressão, situações de bullying, abuso sexual ou moral, memória de abandono, dificuldades parentais, autocriticismo ou excesso de crítica externa, dificuldade de inclusão ou de seguir padrões sociais podem ser alguns dos fatores relacionados a compulsão. Esses conflitos são chamados de facilitadores e geralmente são somados a crenças disfuncionais sobre os alimentos, o ato de comer e as suas consequências

Esse foi o caso de Fernanda Corte. Ela teve contato com a bulimia em 2014, transtorno em que a compulsão é seguida de métodos para a não absorção das calorias, como indução do vômito e uso de laxativos. Durante o tratamento da bulimia, as crises compulsivas continuaram. “Eu comia tudo que via pela frente. Arroz gelado, feijão gelado, pão mofado, coisas que não são gostosas. Era só pra botar pra dentro. Às vezes eu programava a minha compulsão. Passava no supermercado, comprava um monte de besteira, gastava 200 reais em comida. Comia até não conseguir andar. Depois vinha uma culpa avassaladora. Eu me sentia feia, gorda, pensava que nunca ia melhorar”, ela lembra.

Fernanda recebeu alta no início de 2018. Hoje ela ajuda outras mulheres a lidarem com transtornos alimentares, saúde mental e maternidade através das redes sociais. “Durante o tratamento, não foi tudo lindo e perfeito. Eu faltava, deixava de ir, queria desistir. Tive muitas recaída. Faz dois anos, quase três, que eu não tenho nenhuma compulsão. Hoje, lembrando dessa fase doente, parece até outra pessoa”, ela conta.

Muitas pessoas acreditam que dietas são a solução para a compulsão alimentar, porém o tratamento que Fernanda passou vai muito além disso. Ela teve acompanhamento com nutricionista, psicóloga e psiquiatra. Apesar da compulsão alimentar estar relacionada com a obesidade, o tratamento do transtorno deve trabalhar com as causas de conflito que ocasionam o quadro. “Os pensamentos e crenças disfuncionais se mantêm, os conflitos continuam sem serem resolvidos, o sofrimento permanece e abrir mão do comportamento compulsivo sempre vai perder para a necessidade de aplacar a dor”, explica a nutricionista Aline Copstein.

Por Marina Gil – Correio Do Povo

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