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A luta da tecnologia para capturar nossa atenção

8 de março de 2019

Entre mensagens que pipocam na tela, títulos chamativos e várias outras distrações muitas vezes enganosas, a capacidade de atenção dos internautas encontra constantes obstáculos, um problema que programadores e designers tentam solucionar. Na internet, o mundo todo se viu exposto à “captologia”. Em 1996, o americano B.J. Fogg teorizou sobre a capacidade das tecnologias digitais para influenciar seus usuários. “Não podemos fazer nada, queiramos ou não, sem estar expostos à tecnologia da persuasão”, escreveu em 2010 este pesquisador da Universidade de Stanford. Os adeptos às tecnologias digitais são alvo diariamente desta “persuasive technology”, especialmente nas grandes plataformas: é o caso da rolagem infinita do ‘feed’ do Facebook, ou da função ‘Auto playing’ da Netflix e do YouTube, que passa um vídeo atrás do outro de forma automática.

“Designers éticos” 

“Não é um erro de concepção, isto foi criado e posto em prática com o objetivo de manter o usuário na plataforma”, observa Lenaïc Faure. Este designer digital desenvolveu, com o coletivo “Designers éticos”, um método para “saber se o design para captar a atenção em um aplicativo é sustentável do ponto de vista ético”. No caso do YouTube, por exemplo, Faure observa que se o fluxo de sugestões for seguido, “há uma espécie de dissonância entre o objetivo inicial do usuário”, visualizar um determinado vídeo, “e o que se implementa para tentar mantê-lo na plataforma”. Sempre com o objetivo de mostrar publicidades de empresas sócias e conhecer melhor o gosto do usuário.

O designer Harry Brignull qualificou o fenômeno de “dark pattern”, que poderia ser traduzido como “padrão obscuro”. Trata-se de um modelo de design “meio malvado”, explica à AFP, para “fazer com que você faça o que os desenvolvedores querem que você faça”. Brignull cita outro exemplo: com a entrada em vigor do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), os sites têm que pedir o consentimento explícito dos usuários para recuperar seus dados pessoais. “É muito fácil clicar ‘OK’, mas o que fazer para optar por sair, ou para dizer ‘não’?”. Até mesmo um especialista como ele precisa de ao menos um minuto para descobrir como rejeitar a opção.

“Economia da atenção”

E no mundo digital atual, este minuto vale muito dinheiro. “Economias de escala e efeitos de rede colocaram o controle dessas ferramentas” para captar a atenção “em um número muito pequeno de empresas extremamente poderosas. Essas empresas são movidas pela necessidade de consumir mais e mais atenção disponível para maximizar o lucro”, afirmou em abril de 2018 David S.H. Rosenthal, também de Stanford. Tim Krief, um estudante de engenharia, criou por sua vez uma extensão, Minimal.community, para bloquear as sugestões “nocivas” no YouTube, Facebook, Amazon e, em menor medida, no Twitter e no Google. Livre e “Open Source”, a extensão busca “sensibilizar os usuários sobre estas questões”, explica este jovem, acrescentando que “não damos importância suficiente a toda esta economia da atenção, porque nos parece invisível”.

Isso bastará para lutar contra os gigantes da captação de atenção on-line? “Notarão um pequeno impacto”, estima Harry Brignull, mas “será talvez mais difícil ter um impacto sobre as decisões destas mesmas empresas”. Lénaïc Faure observa uma demanda crescente por parte dos consumidores digitais e acredita que seu método poderia contribuir para “reconciliar os usuários com os serviços”. Este tipo de iniciativas “podem ser um caminho para dizer às grandes plataformas que estes designs persuasivos nos incomodam”, conclui Tim Krief.

Fonte: JORNAL COM TECNOLOGIA

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