Em um começo de temporada marcado pelas variações bruscas nas condições do mar — calmo e limpo num dia, escuro e revolto em outro —, um refúgio oferece constantemente águas plácidas, aquecidas e transparentes na zona litorânea. Não há margem para surpresas: sempre que você pisar na água, conseguirá ver os pés e cardumes de pequenos peixes que nadam ao redor.
Graças a esse atrativo, a Lagoa do Bacupari (que muitos conhecem por Bacopari), no município de Mostardas, recebe um número crescente de visitantes ano a ano e se firma como novo ponto turístico da região. Nas últimas cinco temporadas, o local ganhou restaurantes, pousadas, campings e serviços como passeios motorizados entre as dunas ou, de barco, por todo o perímetro lagunar. O percurso de barco começou a ser oferecido neste veraneio e, na próxima temporada, deverá somar-se a ele o aluguel de caiaques.
— Aqui, não sinto falta de Santa Catarina — comenta John William Teixeira, 23 anos, que pagou os R$ 15 por pessoa para fazer o circuito de barco ao lado da noiva, Rafaela Matos, 24, e dos amigos Alessandra Campos e Daniel Walczynski.
Quem prefere sossego pode colocar a cadeira de praia diretamente dentro da lagoa, já que a faixa de areia é estreita, e admirar a paisagem (marcada pela visão de dunas e matas no horizonte), ou avançar dezenas de metros com a água ainda abaixo da linha da cintura para um mergulho.
A costureira de Três Coroas Camila da Chary, 20 anos, viajou acompanhada da família para conhecer o lugar no final de semana passado. Ela ficou sabendo das águas mansas de Bacupari por meio de um amigo e resolveu conferir. Não se arrependeu.
— Além de transparente, a água é bem morna — disse Camila, deitada em uma espreguiçadeira dentro da lagoa.
A mansidão cristalina da Bacupari costuma atrair famílias com crianças pequenas, como a do motorista de Alvorada Paulo Henrique Rosa de Lima, 24 anos, sua mulher, a assistente de cobrança Juliana Souza, 22, e o filho Miguel, de apenas oito meses, instalado em uma pequena piscina plástica flutuante.
— Às vezes, a gente vai para o mar, para Tramandaí, mas o Miguel prefere a lagoa — conta Lima.
A região também atrai praticantes de esportes aquáticos. O cabeleireiro Danilo Tietbohl, 27 anos, há dois meses dedica os finais de semana a encontrar pontos Rio Grande do Sul afora para remar em seu caiaque recém-adquirido ao lado da mulher, Nicole Ferreira da Silva, 27.
— Já estivemos em vários lugares, mas a água cristalina daqui é a melhor que eu já vi — garante Tietbohl.
Quem estiver disposto a um pouco mais de aventura pode fazer uma trilha a pé ou ir de carro à chamada Terceira Lagoa, um outro manancial localizado a uma meia hora de caminhada desde a Bacupari.
Após cruzar um córrego e alguns pontos de areia, o visitante depara com uma lagoa azul-escuro costeada por árvores e dunas. Em um ponto, os cômoros terminam diretamente na água, o que leva alguns turistas a descer o paredão arenoso deslizando como se estivessem em Natal, no Rio Grande do Norte.
Mas é bom ter cuidado: embora a lagoa seja rasa em alguns pontos, ali não dá pé a poucos centímetros da margem e assim como em toda a vila — não há guarda-vidas.
— A tranquilidade e a beleza do lugar valem a pena — comenta o advogado de Esteio Joison de Freitas, 38 anos, que costuma frequentar a região.
Alguns preferem caminhar pelas dunas, que se estendem dali até a beira-mar _ a menos de cinco quilômetros em linha reta. É recomendado levar proteção para os pés: nos dias de sol forte, a areia branca se torna escaldante.
A explosão na procura pelas águas mansas e límpidas da também chamada Lagoa Azul, outra denominação da Bacupari, faz com que a população local se multiplique nos finais de semana do verão. Segundo o secretário municipal de Turismo, Eduardo Verardi, os cerca de cem moradores permanentes fora de temporada se transformam em até 6 mil nos feriados de final de ano.
— O crescimento na área foi bárbaro. Havia alguns lugares para acampar, mas hoje já existem mais de 50 pousadas ou quartos de aluguel e uma dezena de campings — surpreende-se Verardi.
A corrida pelo recanto litorâneo já traz desafios de infraestrutura: aos sábados e domingos de calor é difícil circular pela via na beira da lagoa ou encontrar lugar para estacionar. Uma antiga ponte de madeira permite a passagem de apenas um veículo por vez, e frequentadores se queixam da falta de lixeiras, por exemplo.