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Brasil pode ter 21 mil mortes a mais por coronavírus, aponta levantamento inédito

22 de junho de 2020

Além das cerca de 50 mil mortes pelo novo coronavírus computadas nas estatísticas oficiais do Brasil, ao menos outras 21.289 delas estão sob suspeita de terem sido causadas pela doença desde o início do ano. Os dados que permitem essa conclusão vêm do Sivep-Gripe, sistema utilizado pelo SUS para notificar e acompanhar os casos suspeitos que chegam aos hospitais e postos de saúde.

Essas mortes foram atribuídas, ao menos por enquanto, à síndrome respiratória aguda grave (SRAG) “inespecífica”, de origem não identificada. O termo é usado quando um paciente tem sintomas de síndrome gripal que se agrava, e depende de investigação para apontar agente causador. Se o agente é apontado (influenza, Covid-19, bactéria etc.), o registro é “específico”. Quando não, o registro fica “sem indicação”.

De modo suspeito, o tipo inespecífico tem sido mais comum onde há baixa prevalência de Covid-19. De janeiro a maio de 2020, o Brasil registrou 16 vezes esse diagnóstico em comparação com a média dos sete anos anteriores. Já os casos de SRAG específica se mantêm na média. O dado de maio ainda não está consolidado, pois ainda há mortes em investigação, mas já mostra disparidade.

— Tecnicamente, essas ocorrências de SRAG poderiam ser por outros vírus, mas a desproporção é grande demais num ano em que a gente sabe que existe a Covid-19 — afirma Eduardo Leite Costa, professor de pneumologia da Faculdade de Medicina da USP.

Em março, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz detectaram um disparo nas internações por SRAG, em paralelo aos casos conhecidos de coronavírus. Desde então, casos de SRAG são tratados como suspeitos para a doença e testados.

— No começo a gente levantou essa questão porque, como a Covid-19 ainda era uma coisa muito nova, não existia protocolo bem definido e a testagem era pouca — conta Daniel Villela, epidemiologista da Fiocruz. — Naquela época tinha muitos casos de SRAG que eram sim Covid-19 mas não eram confirmados, e ainda tem.

A definição dos critérios e do ritmo de testagem varia de estado para estado. Em Minas Gerais, por exemplo, o site independente Coronavirus-MG detectou que havia mortes de SRAG pendentes de teste para a Covid-19 acumuladas desde fevereiro.

No estado, que no início da pandemia se destacou com números bem menos impactantes dos que os do Rio e São Paulo, para cada dez mortes já atribuídas à Covid-19, há outras 45 classificadas como tendo sido causadas pela SRAG inespecífica.

— Minas é um exemplo de um estado que optou por investir mais por leito de UTI e menos em exames, de modo extremo — afirma Leite Costa. — Analisando o número de exames por habitante, é provável que ele seja indiretamente proporcional a essa disparidade entre SRAG e Covid-19.

Hoje, o governador Romeu Zema (Novo) tem falado que Minas precisa se preparar para uma “segunda onda” do coronavírus — ainda que a baixa testagem não permita saber sequer o tamanho do que ele classifica como “primeira” onda.

Disparidade

Se o índice de testagem é difícil de medir, é possível verificar que a disparidade entre o volume de óbitos por SRAG e o de Covid-19 é comum onde a prevalência do coronavírus pelos números oficiais é baixa.

É o caso em Mato Grosso do Sul, que apresenta a maior discrepância do Brasil, onde cada morte por Covid tem a companhia de outras nove atribuídas à SRAG.

Esse índice pode ser contrastado à taxa de casos confirmados de Covid por 100 mil habitantes: a redução no excesso de mortes por SRAG anda em paralelo ao aumento na taxa conhecida de Covid-19 na população.

Leite Costa diz que não é falha dos médicos aplicar o diagnóstico inespecífico.

— É correto chamar esses casos de SRAG enquanto você espera um diagnóstico etiológico (que descreve a causa da doença). Assim você consegue monitorar esses números, porque o diagnóstico etiológico demora, sobretudo no Brasil — diz.

— Mas também é preciso que em algum momento ocorra a confirmação do diagnóstico de Covid-19, o que muitas vezes não acontece.

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