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Disciplina de Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente recebe profissional

12 de junho de 2021

A disciplina de Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente, do Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí, vem contando com participações e contribuições especiais em suas aulas. No dia 21 de maio, foi a vez da farmacêutica e mestra Sandra Emília Drews Montagner. Na conclusão do seu mestrado em Atenção Integral à Saúde pela Unijuí, em abril de 2019, ela defendeu a dissertação “Avaliação de pacientes oncológicos e relação com exposição a agrotóxicos”, que teve como orientadora a professora doutora Eniva Stumm, coorientadora a professora doutora Christiane de Fátima Colet e como participante da banca o professor titular desta disciplina, doutor Roberto Carbonera.

Vindo ao encontro da temática da disciplina, Sandra apresentou contribuições sobre a disseminação do consumo mundial de agrotóxicos que ocorreu logo após a Segunda Guerra Mundial, vinculado ao aumento da necessidade de alimentos e justificando uma modernização da agricultura. No Brasil, a expansão do consumo de agrotóxicos entre 2004 e 2013 foi de 190%, muito maior do que a média mundial. Ao se considerar que o país possui 29 milhões de pessoas que residem na zona rural, e destas, 12 milhões são economicamente ativas, é possível perceber um grande impacto na saúde desses indivíduos. Como comprovação, identifica-se um milhão de intoxicações por agrotóxicos no mundo a cada ano e 20 mil óbitos. Nos países em desenvolvimento, 70 mil óbitos e sete milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais entre trabalhadores da zona rural. Desde 2008, o Brasil é líder no consumo de agrotóxicos. Frente a isso, observa-se um elevado índice de casos de doenças relacionadas.

A exposição aos agrotóxicos ocorre de diferentes formas, como exposição ambiental, alimentar e ocupacional. Para qualquer tipo de contaminação, as vias de acesso dérmica, ocular, respiratória e digestiva são as de maior predominância para efetivar o contágio. Após a exposição ao agente químico, observam-se níveis de consequências como intoxicações agudas, subagudas e crônicas, culminando com agravos à saúde.

Para os trabalhadores de áreas rurais, a exposição é constante e a evolução das consequências ao organismo podem ser a curto prazo, como as condições agudas de doenças, ou a longo prazo, caracterizado por condições crônicas de doenças que na maioria das vezes se tornam irreversíveis.

Fatores ambientais e ocupacionais têm sido apontados como responsáveis por 19% de todos os tipos de câncer, e consequentemente o potencial de prevenção é bastante evidente e efetivo. Partindo da preocupação com os trabalhadores da agricultura, Sandra fez um importante destaque ao uso de Equipamentos de Proteção Individual com base na Norma Regulamentadora 31, que discorre sobre os requisitos de organização no ambiente de trabalho, para garantir as atividades rurais com segurança e saúde e a Norma Regulamentadora 7, que instituiu o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e a realização de exames periódicos para monitoramento da exposição a agrotóxicos, entre eles a acetilcolinesterase, marcador de efeito da exposição de organofosforados, organoclorados e carbamatos.

No Brasil, os índices de novos casos de câncer estão cada vez maiores. Anualmente, 640 mil novos diagnósticos de câncer são realizados, sendo em mulheres a predominância do câncer de mama e nos homens o câncer de próstata. Com base em todos esses argumentos, a pesquisadora procurou identificar se existe uma relação entre exposição ocupacional a agrotóxicos e câncer em trabalhadores rurais. O objetivo geral da pesquisa foi avaliar a exposição ocupacional a agrotóxicos em indivíduos com diferentes tipos de câncer, recentemente diagnosticados e assistidos em um Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) de um hospital geral.

A população de estudo da pesquisa de Sandra contou com 270 pacientes com diagnóstico de câncer, inseridos para iniciar tratamento oncológico junto ao Cacon no período estabelecido para a coleta de dados e que atenderam aos critérios de inclusão. Foram coletadas amostras de sangue desses pacientes, para dosagem de acetilcolinesterase, e um grupo controle foi estipulado, constando de 29 indivíduos saudáveis, doadores de sangue que procuraram o Banco de Sangue do Hospital de Caridade de Ijuí (HCI) e que atenderam aos critérios de inclusão.

A pesquisa de Sandra foi dividida em três manuscritos. O Manuscrito I trata da Exposição ocupacional a agrotóxicos e relação com o câncer, revisão narrativa da literatura; o Manuscrito II da Análise de novos casos de câncer em indivíduos assistidos em um Cacon e relação com exposição a agrotóxicos; e o Manuscrito III sobre a caracterização de indivíduos com câncer, residentes no meio rural, práticas no uso de agrotóxicos e níveis de acetilcolinesterase eritrocitária.

O estudo teve os objetivos alcançados. Com a caracterização dos pacientes oncológicos estudados, evidenciaram-se fatores de risco adicionais à exposição a agrotóxicos nesses indivíduos expostos ocupacionalmente; e aos indivíduos não expostos, também foram identificados fatores de riscos que podem ser modificáveis. O tipo de câncer prevalente se assemelha às literaturas nacional e internacional; e existe uma maior frequência de câncer de mama em mulheres rurais não expostas a agrotóxicos, o que requer estudos adicionais com diferentes métodos e uma maior amostra. O estudo mostrou, ainda, que a caracterização do perfil de pacientes residentes na zona rural e suas práticas no manuseio de agrotóxicos são ferramentas de atuação para os profissionais de saúde; que evidências quanto aos riscos do manuseio de agrotóxicos requer a necessidade de vigiar as condições de trabalho desses indivíduos e monitorara sua exposição; que perceber o risco não garante o uso seguro de agrotóxicos; e que é necessário um esforço conjunto para a diminuir as fragilidades evidenciadas, o que pode ser feito através de educação em saúde.

O relato da farmacêutica Sandra foi muito significativo para os mestrandos, abrindo espaço para discussões e relatos de experiências das mais diferentes formas e áreas de conhecimento. Desta forma, se estabelece constante reflexão sobre o conhecimento construído, com a finalidade promover o desenvolvimento sustentável, que traga benefícios e soluções para as gerações presente e futuras.

Texto elaborado pelas acadêmicas Daiana Zambonato, Cleusa Maria Rossini e Márcia Sostmayer Jung – mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade – PPGSAS, Unijuí.

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