Após assumir a liderança de um PSL rachado na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP) afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que sua missão agora é pacificar a sigla, mas reconhece que o futuro partidário dele e de sua família ainda é incerto.
O deputado, que é filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), disse que desistiu de ser embaixador do Brasil em Washington depois de ouvir seu eleitorado, negou que não tivesse votos suficientes no Senado para que seu nome fosse aprovado e admitiu que uma parte de sua base de apoio era contrária à sua indicação.
Com o partido dividido, no entanto, o deputado disse que vai conversar com todo o mundo e que política não deve ser feita com o fígado.
1. Qual vai ser o objetivo do senhor como líder do PSL? Qual vai ser sua missão?
É preciso que o PSL retorne a ser um partido onde você coloque adiante as pautas que nos elegeram, e não um partido em que, lamentavelmente, como na semana passada, oriente contra o governo. A minha missão como líder é retornar ao status quo, ao status que acontecia antes dessa conturbada semana para o PSL. Os deputados que estavam na comissão xis seguem na comissão xis.
2. Não tem retaliação?
Não, nenhuma retaliação.
3. Como foi a decisão de desistir da embaixada dos EUA? Ela foi tomada só pelo senhor, o senhor conversou com o seu pai, com outras pessoas?
O presidente sempre me deixou muito à vontade. Ele nunca fez disso uma obrigação, ele nunca interferiu nessa minha decisão. Tomei essa decisão falando com eleitores, uma parte a favor, uma parte contra, mas bem dividido. Ouvindo pessoas próximas. Críticas construtivas, de boa-fé. E uma avaliação [de] onde seria mais importante minha atuação. Nesse momento, eu acredito que o melhor é ficar aqui no Brasil, ajudar na construção desse movimento conservador. Como você vê, existem várias discussões, mesmo entre nós, na internet. Então a gente traçar quais são as nossas metas, qual a nossa identidade. Para isso também que serviu o CPAC, o maior evento conservador do mundo, que trouxe para o Brasil, no mês passado, em São Paulo. Então a pegada é mais ou menos essa daí.
4. Então não foi por falta de votos no Senado?
Não, não. Inclusive um dos senadores, foi até engraçado. Antes de eu vir fazer o discurso, eu falei com alguns senadores que estavam me ajudando no Senado. Falei com eles pessoalmente antes de vir aqui fazer o discurso, para que eles não soubessem pela imprensa. E um deles chegou para mim e se virou “ué, mas por que você vai desistir? Está tudo encaminhado, a articulação está toda feita, seu nome vai passar aqui”. Porque, na cabeça dele, eu estava desistindo por conta talvez de não ter os votos. Então, na verdade, é bem tranquilo, eu acho que eu teria os votos, sim, mas é só uma questão de análise, onde seria melhor minha posição, como meu eleitorado enxerga isso, porque eu confesso, era bem dividido. E isso aqui que foi me dando esse norte.
5. Há críticas fortes de quadros do PSL ao senhor e a seus irmãos, dizendo que os filhos atrapalham o presidente. Tem espaço para a família Bolsonaro no PSL? Vocês vão sair do partido? Como está esse impasse?
A gente está esperando o presidente retornar da viagem à Ásia, está tudo em aberto. Pretendo também conversar com o Rueda [Antonio Rueda, vice-presidente do PSL]. Eu vivo um dia após o outro. A minha missão agora é pacificar o PSL. Tenho escutado muita coisa, muita coisa infundada, e eu prefiro nem citar nome de parlamentar ou de quem esteja fazendo esse tipo de crítica para evitar elevar os ânimos novamente.
6. Vai conversar com a outra ala? Tem conversa com Luciano Bivar (presidente do PSL)?
Eu conversaria com ele, estou conversando com todo mundo. A nossa profissão aqui, político, a gente engole muito sapo. A gente não precisa morrer de amores um com outro, tudo que for preciso para colocar adiante as pautas que interessam aos brasileiros vai contar comigo, com minha atenção, com minha paciência.
7. Futuro é no PSL ou o futuro da família Bolsonaro é em outro partido? Não sei, vai depender do decorrer dos dias.
Retribuição e lealdade
Escolhido líder do PSL na Câmara durante a ruidosa crise no partido, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) cobrou lealdade ao pai e disse que a retribuição virá nas eleições de 2022. “Entre você ficar com o dinheiro do fundo partidário, diretórios e garantia de legenda (…) e atender o presidente, acho que o eleitor espera que o deputado do PSL atenda Bolsonaro”, disse ele ao jornal Estado de S. Paulo.