'O Banquete' disseca amor e sexo em retrato sobre relações de poder nos anos 1990 - NoroesteOnline.comNoroesteOnline.com ">

‘O Banquete’ disseca amor e sexo em retrato sobre relações de poder nos anos 1990

13 de setembro de 2018

Mais de 2 mil anos depois de Platão escrever “O Banquete”, a diretora Daniela Thomas se inspira no clássico para lançar um filme que celebra o poder do diálogo.

“O Banquete”, o filme, tenta dissecar amor, sexo e relações de poder entre homens e mulheres no Brasil dos anos 1990. A estreia é nesta quinta-feira (13).

O longa, segundo que Daniela dirige sozinha, tem uma proposta diferente do cinema com o qual você pode estar acostumado.

Filmado em apenas um lugar, uma luxuosa sala de jantar, ele se concentra em oito amigos em volta de uma mesa. Por 104 minutos, eles falam sobre amor e obscenidades enquanto destroem pouco a pouco os laços que os uniam.

Parece um teatro filmado, tem planos-sequência do diretor de fotografia Inti Briones (“El Verano de los Peces Voladores”) filmados por uma hora.

Drica Moraes é Nora, a anfitriã que oferece um jantar para comemorar 10 anos de casamento de seus amigos Mauro (Rodrigo Bolzan) e Bia (Mariana Lima). Mauro é editor de uma revista e pode ser preso a qualquer momento por ter desafiado o presidente ao publicar uma carta aberta.

Apaixonada por atores, Daniela escolheu a dedo os seus. Mariana foi a primeira escalada por sua trajetória no teatro. Chay Suede, Caco Ciocler, Bruna Linzmeyer, Gustavo Machado, Fabiana Gugli e Georgette Fadel completam o elenco enxuto.

Daniela tinha o roteiro pronto há 20 anos. A ideia da trama surgiu de um jantar real, na casa da atriz Bete Coelho.

A trama foi pensada para o teatro, mas as exigências da diretora – jantar de verdade, palco pequeno, oito grandes atores – inviabilizou o projeto por duas décadas.

Em 2015, enquanto filmava “Vazante” com o produtor Beto Amaral, o texto foi desengavetou. “Quando terminamos de rodar o filme, Beto me perguntou se eu tinha mais algum roteiro. Eu disse que tinha ‘alguma coisa’. Ele leu, amou e topou fazer na hora”, lembra Daniela em entrevista ao G1.

O ídolo da cineasta e a inspiração do longa é o diretor americano John Cassavetes (1929-1989). “Ele trabalhava com um grupo de atores de teatro e fazia os mais incríveis filmes de ator que conheço. que os atores dominam a cena e roubam o filme”.

“E eu pensava ‘meu Deus, será que um dia eu vou conseguir fazer um filme que os atores sejam soberanos?’ E ‘O Banquete’ é isso, uma homenagem ao tipo de cinema que o ator rouba o filme do diretor, sabe?”

É tudo verdade?

A diretora estreou no cinema em 1996, dirigindo “Terra Estrangeira” com Walter Salles. Foi ao lado dele que filmou, em 2008, “Linha de Passe”, indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Ela diz ter um obsessão com a verossimilhança. “Eu gosto de transmitir algo muito realista. No caso desse filme, é o diálogo. Eu queria que fosse tão realista que as pessoas nunca tivessem visto algo tão comum, normal e rasteiro no cinema. Que os atores falassem como as pessoas falam”.

A diretora fica perturbada com o emprego do diálogo em outros filmes. “Eles são muito usados para contar as situações. E aqui eu queria que as pessoas não contassem nada, só falassem o que sentem”.

Retrato de uma época

O filme se passa no Brasil dos anos 1990 e deve ser lido como um retrato de época, aconselha Daniela. A ideia era explorar a relação de poder entre homens e mulheres.

“Longe de ser um filme denúncia, ele mostra uma dinâmica que está caduca, de mulheres que ficam se medindo pela estima que os homens têm delas. É um filme de época que fala de uma estrutura que espero que a gente não precise viver mais.”

“O Banquete” chega aos cinemas quando essas relações, principalmente no ambiente de trabalho, ganham cada vez mais os holofotes.

“Estamos vivendo um dos momentos mais interessantes no campo do erotismo e da sedução. Nos demos conta de que coisas que aceitamos com facilidade podem ser aviltantes para mulheres”, diz Daniela em relação às acusações de assédio, como as reveladas em Hollywood no ano passado.

Chay Suede no filme ‘O Banquete’ — Foto: Divulgação

“No momento do longa, as mulheres ainda estão reféns do pensamento masculino, mas já manifestando sua força, já dizendo o que querem e como querem, inclusive sexualmente. No jantar, você escuta sobre o desejo das mulheres, o que é muito importante”.

No filme, os personagens pertencem à classe artística e intelectuale se sentem “heróis nacionais” em um Brasil afundado em crise econômica e casos de corrupção.

Quase 30 anos depois, Drica Moraes ainda defende o ativismo da classe:

“Como cidadãos, somos conclamados a ser ativos, porque senão somos assassinados, destruídos e devastados. Eu me manifesto na medida do possível, porque acho que meu maior ativismo está no trabalho, mas tento sempre gritar quando me machucam”.

Polêmicas em festivais

No ano passado, Daniela Thomas dividiu o público ao lançar “Vazante”. O filme, sobre a escravidão em uma fazenda mineira no século 19, foi acusado de retratar superficialmente o tema e os personagens negros. A polêmica aumentou a partir de críticas por parte da plateia em um debate no Festival de Brasília.

Um ano depois, a diretora tentou evitar dificuldades em sua nova produção. O editor de revista de seu filme foi inspirado em Otávio Frias Filho, diretor de redação da “Folha de S. Paulo”. Ele morreu em agosto em decorrência de um câncer.

“Do Otávio, o personagem tem o jeito sério, calado, mas que exala poder”. A carta enviada ao presidente Fernando Collor de Mello também une os dois editores.

Mas o personagem vai além. Envolvido em muitas tramas amorosas e sexuais, coleciona mulheres e ciladas e isso, segundo Daniela, nada tem a ver com Otávio.

Por essa relação com Otávio, a diretora optou por tirar o filme do Festival de Gramado. Ele morreu poucos dias antes do lançamento oficial no festival. “Poderia gerar interpretações erradas em um momento de respeito à história do Otávio”, justifica.

Fonte: G1

EAD Unijuí 2023 | Conectando Futuros

2 de março de 2023
Copyrights 2018 ® - Todos os direitos reservados