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Pílula anticoncepcional está sendo abandonada por causa do risco de trombose

30 de abril de 2019

É cada vez mais comum encontrar mulheres jovens que deixaram a pílula anticoncepcional para trás. Criado em 1960, o comprimido que representou uma revolução na vida dessa parcela da população — que pela primeira vez teve a chance de fazer planejamento familiar —, hoje é visto com cautela por parte das mulheres. O principal medo é a trombose, isto é, a formação de um trombo no interior de um vaso sanguíneo ou do coração. Em alguns casos, o quadro pode evoluir para sua complicação mais grave, a embolia. Este efeito colateral da pílula, já bem documentado na literatura médica, é muito raro, mas, quando acontece, tem o potencial de ser letal.

O risco de uma mulher que não toma pílula anticoncepcional desenvolver trombose é de 4 em cada 10 mil, ao longo de um ano. Se ela toma pílula, esse risco mais do que dobra, passando a ser de 10 em cada 10 mil em um ano, explica a ginecologista Ilza Maria Urbano Monteiro, da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Essa taxa de risco já diminuiu muito ao longo das últimas décadas. As primeiras pílulas tinham uma dosagem de hormônios até 90% mais alta do que as atuais, o que gerava mais efeitos colaterais graves na década de 60. Então por que a onda de abandonar a pílula veio justamente nos últimos anos?

“Hoje, é possível optar. Quando a pílula foi criada, não havia outras opções, como o DIU ou o diafragma”, responde Ilza, que é vice-presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo. “Com o crescente empoderamento feminino, as mulheres passaram a se preocupar mais em escolher como cuidar do próprio corpo, em saber como ele funciona, qual é o leque de opções que elas têm e poder decidir junto com o médico o que é mais seguro para o caso de cada uma.”

Para a mineira Carolina Jardim, que teve embolia pulmonar após trombose há menos de um mês — e não tinha nenhum outro fator de risco além da pílula anticoncepcional —, o alerta vermelho se acendeu. Ela reclama da falta de orientação médica.

“Como sempre fui saudável, não imaginava que isso poderia acontecer comigo”, diz ela. “Durante toda a minha vida, nenhuma ginecologista com quem eu me consultei me informou ou advertiu sobre os riscos.”

Caso parecido aconteceu com Ana Carolina Asch, que teve trombose em 2015 e hoje tem como sequela o espessamento de uma veia na perna.

“A verdade é que eu tive muita sorte. Eu poderia ter morrido. Fiquei com a sensação de que a pílula é uma roleta-russa: está tudo bem… até que não está”, afirma ela. “O que mais me assustou foi o fato de um remédio ter me deixado doente. E, quando eu comecei a reclamar da trombose, o médico disse que eu “era uma menininha muito impressionável”. Eu ainda por cima sofri misoginia.

Orientações médicas

A ginecologista Ilza Maria Urbano Monteiro destaca que, para orientar melhor os próprios médicos e a população de modo geral, a Febrasgo lançou a campanha #VamosDecidirJuntos, com uma página on-line que reúne informações sobre todos os métodos contraceptivos existentes.

“O que a gente não pode é demonizar a pílula, porque, para o conjunto de pessoas que toma, o risco é bem pequeno. Durante a gravidez, por exemplo, o risco de trombose é três vezes maior do que durante o uso da pílula. Mas o que é fundamental é a mulher estar bem informada, para ela escolher, sob orientação do médico, o risco que vale à pena correr”,.destaca ela.

Nem toda pílula

O risco de trombose está associado ao estrogênio. Ele é o principal responsável pelo aumento dos fatores de coagulação e, portanto, quanto maior a dose desse hormônio, maior é o risco de desenvolver a doença. Sendo assim, somente as pílulas combinadas de estrogênio e progesterona apresentam alguma possibilidade de causar trombose.

Há um segundo grupo de pílulas, feitas apenas de progesterona. Estas não oferecem esse risco. A adesão a essa pílula, no entanto, é baixa porque cerca de 30% das mulheres têm pequenos sangramentos. A tendência é que, com o uso, eles diminuam, mas muitas abandonam o método logo no início por conta do incômodo.

“A pílula de progesterona tem uma eficácia muito boa, semelhante à da combinada. Mas não costuma ser a primeira opção das mulheres porque ela pode pode gerar esses “escapes menstruais” e, em alguns casos, também pode interferir na libido”, afirma Isabela Henriques Rosa, ginecologista da equipe Clisam e do Hospital Santa Lúcia.

Entre os métodos de contracepção não hormonais — isto é, que não interferem de nenhuma maneira nos hormônios e, por isso mesmo, estão longe de causar trombose —, estão o DIU de cobre, o diafragma e a camisinha. Em geral, muitas mulheres que repensam o uso da pílula recorrem a eles.

Fonte: O Sul

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