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Psiquiatria e as doenças do coração: saiba qual a relação

28 de maio de 2021

Dados do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), realizado com 15 mil moradores de 6 capitais brasileiras, relacionaram alguns transtornos psiquiátricos com risco aumentado de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Essa pesquisa confirmou outros estudos internacionais, que chegaram à mesma conclusão: transtornos psiquiátricos podem provocar ou agravar doenças cardíacas, ao mesmo tempo em que doenças no coração podem desencadear ou piorar transtornos psiquiátricos.

A imagem popular de que emoções nascem no coração está ilustrada em expressões como ‘um coração apaixonado’, ou quando se diz que uma pessoa ruim ‘não tem coração’. Hoje sabe-se que a vivência emocional está no cérebro, mas a relação entre esses dois órgãos é cada vez mais bem compreendida através de estudos.

Cyro Masci, médico psiquiatra, explica que existem diversos motivos para ocorrer interação entre o coração e transtornos emocionais, e essa ligação recíproca é a cada dia melhor esclarecida por pesquisas. O especialista explica que existem diversos motivos para ocorrer interação entre o coração e transtornos emocionais. “Ao contrário do que muitos pensam, os prejuízos de vários transtornos psiquiátricos vão além do sofrimento emocional, podendo promover ou agravar doenças do coração.”

Influência nos hábitos de vida

Segundo Masci, “o primeiro e mais óbvio motivo dos transtornos psiquiátricos afetarem o coração é pela influência nos hábitos de vida. Pessoas que sofrem de depressão, por exemplo, muitas vezes adotam hábitos de vida pouco saudáveis, como ter má alimentação, sedentarismo, consumir muito álcool ou nicotina. A depressão reduz o desejo e motivação para a vida, o que também dificulta a adesão ao tratamento cardiológico de longo prazo.”

Coração e sofrimento emocional

As doenças do coração estão relacionadas ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Cyro Masci explica que “após o desenvolvimento de enfermidades cardíacas, muitas pessoas passam a desenvolver forte ansiedade, ou então transtorno depressivo. Embora possa parecer óbvio que a experiência de adoecimento cardíaco leve a sintomas de ansiedade ou depressão, existem outros fatores envolvidos”.

Conforme o médico, “pesquisas recentes demonstram que várias alterações presentes em doenças do coração podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Essas alterações incluem um estado de inflamação no organismo todo, ou ainda liberação alterada de adrenalina. Em outras palavras, existem motivos biológicos para o problema psiquiátrico em pacientes com doença cardíaca, e não apenas emocionais.”

A conexão hormonal

Cyro Masci explica que vários transtornos psiquiátricos estão relacionados à liberação alterada de hormônios como cortisol e adrenalina. “O estresse prolongado geralmente afeta a liberação do cortisol, o que pode facilitar o aparecimento, ou agravar, doenças cardíacas. Ao mesmo tempo, cardiopatias também alteram a liberação desse hormônio, fechando um ciclo vicioso em que alterações emocionais pioram doenças do coração, e doenças cardíacas promovem alterações psiquiátricas. O cortisol, como se vê, tem um papel fundamental nessa interação, e deve ser sempre levado em conta nas avaliações e tratamentos”.

Síndrome do coração partido

Se o estresse crônico pode alterar o hormônio cortisol, situações de sobrecarga emocional momentâneas podem ocasionar liberação exagerada de adrenalina. Segundo Cyro Masci, “situações de estresse agudo, como alguma perda familiar ou pessoa próxima por morte ou separação, perder uma grande quantidade de dinheiro, ou ainda ser diagnosticado com alguma doença grave pode provocar alterações cardíacas transitórias, mas que, em uma pequena parcela da população, chega a gerar doenças mais graves no coração, constituindo a chamada síndrome do coração partido.”

Sono e ansiedade

De acordo com Masci, “a insônia crônica, persistente, aumenta o risco de hipertensão arterial, assim como a ansiedade também contribui para aumentar o risco de algum tipo de doença cardíaca. Alguns estudos indicam que portadores de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), por exemplo, têm suas chances de desenvolver doença do coração aumentada em 30%, quando comparados com pessoas que não sofrem desse transtorno psiquiátrico”.

Masci conclui que “o fato de os transtornos psiquiátricos afetarem de modo negativo a saúde do coração, e de que doenças cardíacas poderem alterar a mente, favorecendo o sofrimento emocional, demonstram que o tratamento psiquiátrico é um poderoso aliado não apenas na prevenção de doenças cardíacas, mas também auxiliando na recuperação de quem já sofre do problema.”

Fonte: O Sul

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