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‘Ensinem seus filhos a amar’: o apelo da mãe do menino de 9 anos que se matou após bullying por homofobia

30 de agosto de 2018

“Você quer saber como é estar morto enquanto ainda está vivo? Perca um filho. É doloroso. Seu coração se parte a cada segundo, e você não sabe o que fazer. A vida deixa de ser justa.”

Leia Pierce descreve assim seu sentimento ao lidar com o suicídio de seu filho, Jamel Myles, de 9 anos. O menino se matou após sofrer, durante quatro dias, bullying por homofobia em sua escola em Denver, nos Estados Unidos, segundo sua mãe.

“Estou acabada. Se não fosse por minha filha, não sei o que faria”, disse ela à BBC.

Pouco tempo antes, Jamel havia contado para Leia que era gay. O menino disse que não se importaria de compartilhar isso com outras pessoas, porque tinha “orgulho” de ser gay.

“Tenho certeza de que ele contou isso para alguém (na escola) que achou que aquilo não era certo e decidiu perseguir ele. Já vi crianças perseguirem as outras por muito menos”, diz Leia.

“Tenho certeza que ele contou para alguém, e isso se espalhou.”

Em reação ao caso, a Denver Public Schools (DPS), órgão responsável pelas 207 escolas públicas da cidade e do Condado de Denver, disse que conselheiros para situações de crise estão disponíveis para os estudantes.

Também que enviou cartas para as famílias da Escola Primária Joe Shoemaker, onde Jamel estudava, informando sobre esses serviços.

O documento dizia que a morte do menino “foi uma perda inesperada para a comunidade da escola” e alerta pais sobre sinais de que as crianças estão passando por situações de estresse.

“A escola me disse que vai trabalhar pela prevenção de suicídios, mas não podemos fazer isso e nos esquecer de combater o bullying. Tenho certeza que a escola sabia que ele sofria bullying”, diz Leia.

Um porta-voz do DPS, Will Jones, disse à BBC que o distrito está “profundamente comprometido a garantir que todos os membros da comunidade escolar sejam tratados com dignidade e respeito, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero e status transgênero”.

Seu comunicado acrescenta que os responsáveis pelo sistema escolar estão tomando as medidas para “garantir que estudantes LGBTQ+ consigam estudar com dignidade”.

As políticas e práticas, disse Jones, incluem programas antibullying e “materiais de orientação que respeitam totalmente identidades de gênero (inclusive pelo uso de pronomes e banheiros de preferência)”.

‘As crianças estavam falando para ele se matar’

Leia diz sentir-se responsável pela morte de Jamel justamente por não ter notado que seu filho sofria bullying.

“Como sua mãe, eu deveria ter percebido sua dor, que ele estava sofrendo, e não fiz isso. Eu me sinto responsável por não ter visto a dor nos olhos do meu bebê.”

Jamel foi encontrado morto em sua casa na quinta-feira. Ele havia começado a quarta série há quatro dias.

“Meu filho e minha filha mais velha eram muito próximos. Meu filho voltou da escola e contou para ela que as crianças estavam falando para ele se matar”, diz Leia.

“Ele não me procurou, e isso me machuca. Porque eu teria entendido, eu o teria defendido. Fico triste que ele tenha pensado que essa era a opção disponível.”

Leia conta que Jamel era um menino “mágico”. “Ele entrava em um lugar e fazia qualquer pessoa se sentir amada e especial. Ele tinha esse jeito especial. Se você estivesse mal, ele faria de tudo para que você ficasse bem. Ele ia se tornar algo grandioso.”

‘Não tem problema ser diferente’

Leia diz que gostaria de passar uma mensagem para outras crianças que, como Jamel, se identificam como gays.

“Diria que elas são lindas e especiais e não há nada nelas de diferente que deva fazê-las se sentirem menos amadas. Sejam gays ou não, elas deveriam sentir que, aonde forem, serão tratadas de forma igual a qualquer outra criança.”

A mãe de Jamel ainda gostaria de dizer algo para os pais de outras crianças.

“Ensinem seus filhos a amarem. Que é tudo bem ser diferente, porque somos todos diferentes. Ninguém é igual, e se fossemos iguais esse mundo seria muito chato. Nossas diferenças nos tornam iguais. Ensinem compaixão aos seus filhos. Ensinem respeito. Ensinem a aceitarem mais uns aos outros”, diz Leia.

“Ensinem que, se você não gosta de algo ou alguém, que está tudo bem ficar quieto e se afastar, que não é necessário dizer sempre coisas ruins, que é bom chegar para alguém e dizer ‘Ei, você é especial, você é lindo’, porque todo mundo tem dor dentro de si e todo mundo precisa de palavras de apoio.”

Leia diz que não quer que ninguém passe pela mesma dor que ela enfrenta neste momento.

“Meu filho disse que queria mudar o mundo e dar amor às pessoas. Ele não pode mais fazer isso agora, mas eu posso passar as palavras dele à frente, porque todo mundo precisa ouvir isso. Uma alma tão gentil deixou esse mundo por algo tão cruel, e quero que meu filho saiba que ele mudou o mundo para melhor por ser quem era.”

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