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‘Que a justiça seja feita’, diz homem esfaqueado antes de júri de acusados por ataque a judeus no RS em 2005

17 de setembro de 2018

O julgamento popular de três acusados pelo ataque a três jovens judeus em 2005 em Porto Alegre está marcado para esta terça-feira (18), no plenário da 2ª Vara do Júri da capital. A denúncia é por tentativa de homicídio triplamente qualificado, tendo entre as qualificadoras motivo torpe, já que o crime foi cometido exclusivamente por discriminação.

O Ministério Público aponta que o grupo de denunciados integra uma organização criminosa de skinheads que prega preconceitos contra determinados grupos raciais e sociais, entre eles, judeus, negros, homossexuais e punks.

Um dos esfaqueados há 13 anos ainda carrega as marcas da violência. Ele chegou a ser internado no hospital e escapou por pouco da morte. “Quero que a justiça seja feita. Quero que episódios assim não aconteçam mais, porque é uma coisa muito retrógrada, julgar uma pessoa pela raça, pela cor da pele”, diz, sem se identificar.

“Isso é uma coisa que gerou uma guerra mundial, e a gente está voltando a viver isso nos dias de hoje?”

O homem lembra que ele e os outros dois jovens foram atacados por mais de 15 pessoas, em uma ação rápida. “Do nada a gente foi agredido. Tomei duas facadas e estou aqui vivo hoje para contar como aconteceu. Graças a Deus, por milagre”, conta. “Eu ia tomar facada pelas costas, mas eu tomei na barriga porque, por algum motivo, na hora eu me virei. Por milagre não pegou nenhum órgão.”

O crime aconteceu na calçada de uma lanchonete na Cidade Baixa, bairro movimentado e tradicional de Porto Alegre. Os três judeus, identificados pelo quipá, o chapéu judaico, foram cercados pelo grupo de neonazistas.

Nove pessoas foram acusadas formalmente pelo crime. “Não foi uma briga de bar, uma briga de rua. O motivo foi exatamente a discriminação, o racismo. Pela forma como eles atuaram, pela quantidade de membros, fortes, soqueiras, com arma branca, e utilizaram dessa. Pelo número deles, pela violência, com certeza eles foram para matar”, afirma o subprocurador de Justiça Marcelo Lemos Dornelles.

Os acusados são Thiago Araújo da Silva, Fábio Roberto Sturm e Laureano Vieira Toscani. Se condenados, a pena pode chegar a 30 anos de prisão.

Em 2009, Laureano foi preso por outra tentativa de homicídio motivada por racismo. Ele estava em um grupo que esfaqueou um segurança. “Eles proferiram palavras do tipo ‘negro sujo, nós vamos acabar com a tua raça, tua raça não presta’ e coisa nesse sentido”, lembra, também sem se identificar.

Por telefone, o advogado de Laureano disse que a acusação é injusta e que confia na absolvição do cliente. Os outros dois réus são defendidos pela Defensoria Pública, que não quis se manifestar.

Os outros seis acusados pelo ataque aos judeus ainda não têm data para serem julgados.

“Nós não podemos permitir que grupos como esses se organizem, especialmente para a prática de violência e discriminação”, diz o subprocurador Dornelles.

De acordo com o presidente da SaferNet, Thiago Tavares Nunes de Oliveira, o que se vê no país é um aumento dos grupos neonazistas, que estão se espalhando por outros estados, além do Rio Grande do Sul.

“Sobretudo na Região Sul do país, mas também no estado de São Paulo e no Distrito Federal, que se organizam pela internet para praticar atos de incitação à violência online, mas também offline”, destaca.

A SaferNet Brasil se define como uma associação civil de direito privado, com atuação nacional, sem fins lucrativos ou econômicos, sem vinculação político partidária, religiosa ou racial. Foi fundada em 20 de dezembro de 2005, com foco na promoção e defesa dos Direitos Humanos na internet.

Os neonazistas usam a internet para propagar as mensagens e recrutar novos membros. “De 2005 pra cá foram registradas no Brasil mais de 250 mil denúncias de conteúdos neonazistas publicados na internet”, diz ele. “As denúncias feitas pela população já permitiram a remoção de mais de 7 mil sites de conteúdo neonazista no Brasil e a deflagração de duas operações pela Polícia Federal.”

Ao longo de 15 anos de investigação sobre esses casos, o delegado Paulo Cesar Jardim acredita que a Polícia Civil conseguiu evitar outros crimes no Rio Grande do Sul. “Eu não tenho dúvida que nós abortamos explosão de sinagoga e também evitamos algumas explosões na passeata livre”, pontua.

Por meio de denúncias e investigações, a polícia monitora a atividade desses grupos. “A denúncia é completamente anônima. Ela pode ser feita diretamente pela internet através do site www.denuncie.org.br“, informa o delegado, que trabalha em Porto Alegre.

“Uma coisa que surpreende realmente: eles acreditam. Eles acreditam no nazismo. Eles acreditam na pureza de raça. Eles acreditam na oxigenação social.”

“O que a gente tem que perceber é que um ataque a uma pessoa por ser judia, por ser negra, por ser mulher, ou gay, ou lésbica, ou transexual é um ataque a todos nós. Porque queira ou não, nós somos formados por uma infinidade de pequenas diferenças. Então, um ataque a um grupo desses, específico, é um ataque à ideia de humanidade, à ideia de sociedade”, salienta o professor de pós-graduação em Psicologia e Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Fonte: G1

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